Sou filha única e não gosto, nunca gostei mas quando era miúda ainda gostava menos e como está bom de ver nunca achei grande graça ao Natal. Três gatos pingados, jantava-se o tradicional bacalhau, via-se televisão enquanto eu imaginava o menino Jesus a passar pela chaminé e deixar a prenda no sapato que já estava em cima do fogão até adormecer e no outro dia poder espreitar o que me tinha deixado enquanto a minha mãe fazia a roupa velha para o almoço, depois vestia a roupa nova e íamos beber café e estava feito o Natal!
Felizmente alguns Natais (quando os meus pais não estavam a fazer birra por algum motivo) foram passados na casa da minha avó e aí já era mais animado, muitos tios, o que significa muitos primos e muita diversão, principalmente quando pegávamos no telefone e toca de ligar para números à sorte e desejar bom Natal às pessoas, adorávamos fazer isto caramba, já era tradição e nunca entendi porque é que havia sempre chatices no mês a seguir quando a minha avó confrontava os meus pais e tios com a factura na mão!
Depois a minha avó morreu e eu soube que havia pessoas da minha família que nunca mais voltaria a ver a não ser em funerais. Isto dito assim parece frio e triste mas é apenas a constatação de um facto, eu soube que assim seria e tinha razão.
Desde que fui mãe as coisas são diferentes, obriguei-me a gostar desta época, por ela (elas agora), criámos a nossa própria tradição e desde o dia em que fazemos a árvore a magia e alegria invade a nossa casa, não há sapato na chaminé, as prendas vão aparecendo debaixo da árvore e ao pé da lareira e ela salta de alegria e grita “mãe, pai, ele esteve cá!! Olha mais uma prenda!” e depois a fantasia invade-a e já vê pistas em todo o lado, “oh mãe, o Pai Natal é malandro, então desarrumou o meu quarto?”, “olha pai, ele esteve a comer bolachas, vês as migalhas?”, e vai sendo assim até à noite da consoada em que acontece o contrário, as prendas vão desaparecendo (o que nos divertimos a escondê-las!) uma por uma até chegar a altura em que o Pai Natal bate à porta (nunca aguentamos até à meia noite porque a minha filha é um cu de sono e não queremos correr o risco dela adormecer, normalmente 10h é a hora) e deixa a bota grande com as prendas sem nunca se deixar ver!
É maravilhoso ver a felicidade dela e como se diverte.
Ela adora o Natal por isso acho que fizemos um bom trabalho!
Pelo sim pelo não o ano passado demos-lhe uma irmã porque eu espero e quero muito com todas as minhas forças que ela nunca, nunca se sinta sozinha e triste, muito menos no Natal!
O que eu gostava mesmo, mesmo muito era poder agarrar em nós meter-nos num avião e voarmos para longe os quatro e viver o nosso Natal, a nossa tradição!
Ainda não é este ano…..