sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Eu

Á noite todas as nossas preocupações, por mais banais que possam ser, parecem gigantes. Talvez seja por isso que ontem quando escrevi este texto não o publiquei logo. Escrevi porque acredito que verbalizar os pensamentos ajuda e porque me faz entender melhor aquilo que me atormenta, mas achei que devia ir dormir e deixar isto em stand by. Hoje ao ler não mudei nada do que escrevi ontem.

Eu sou uma pessoa disponível.

Eu sou uma pessoa disponível para os que amo e para os que mesmo não fazendo parte da minha vida, um dia se cruzaram comigo e calhou precisarem, de alguma forma, de alguém naquele momento para os ouvir, sorrir, ou outra coisa qualquer que eu lhes pudesse oferecer.

Não sou uma pessoa que possa estar disponível para ajudas monetárias porque não tenho condições para isso, mas dou por mim a ir, por exemplo, ter com alguém para fazer uma troca por algo que eu nem preciso porque sei que aquilo que tenho para trocar faz falta à outra pessoa. Sim, é esta a verdade.

Eu sou uma pessoa que não consegue não sentir e viver os problemas dos outros.

Eu sou uma pessoa disponível para todos os fogos que seja necessário apagar.

Eu sou a Mãe que se levanta pela manhã e gasta uns 15 minutos consigo. Banho a correr, vestir a correr, pentear a correr e de seguida o tempo que for necessário para preparar as filhas, deixá-las onde têm de ser deixadas e seguir caminho.

Eu sou a profissional que tem que estar sempre disponível e pronta a fazer aquilo que os outros fazem com o triplo do meu ordenado. Eu sou a colega que tem de os ouvir o dia todo a reclamar do trabalho, do chefe, do horário, do que recebem e a quem só apetece responder que falam e reclamam de boca cheia, porque na verdade não sabem o que é ter um ordenado pequenino, um trabalho de merda em que nunca tiveram qualquer reconhecimento e onde têm de trabalhar diariamente com pessoas egoístas!

Eu sou mulher e Mãe novamente quando vou buscar as miúdas à escola e regresso a casa e sou eu que me preocupo com despesas, orçamento familiar, banhos, jantares, casa, choros, birras, problemas na escola e mil e uma outras coisas.

Eu sou aquela pessoa que todos acham que não tem fantasmas, medos, problemas, porque até sou uma pessoa bem-disposta.

E afinal olho para mim de fora e reparo que deixei de existir como pessoa, a Susana desapareceu. Não consigo encontrar-me em nenhum minuto dos meus dias e dou por mim a pensar que às vezes era bom sentir que também há alguém disponível para mim.

Era bom que algumas pessoas percebessem que nem tudo é sobre elas e que parassem um pouco de falar de si próprias.

Era bom ter alguma ajuda com as miúdas.

Era bom sentir que há alguém preocupado comigo.

Era bom de vez em quando, ter alguém que se preocupasse por mim e me permitisse simplesmente descansar a cabeça.

Era bom sentir que alguém entende porque ultimamente respondo torto a quem não devo e porque não me apetece falar com ninguém.

Talvez fosse bom eu ter ajuda profissional porque estou a deixar de conseguir lidar com tudo e para isso, era bom que este tipo de ajuda não fosse considerado um luxo para pessoas como eu.

Era bom que eu própria me preocupasse comigo de vez em quando.

Fevereiro é o meu mês. O mês do nosso aniversário é sempre o nosso mês, não é? No meu mês gostava apenas de ter algumas horas de cabeça limpa. Apenas isso.

14 comentários:

  1. Gostei muito de ler este texto. Eu também sou essa pessoa. A sempre disponível, se bem que não com tantos afazeres. No entanto, conheço uma grande mulher como tu, a minha mãe, que infelizmente até a minha ajuda teve de perder.
    Espero sinceramente que tudo melhore. Que tenhas alguma ajuda, algum tempo para respirar e alguma paz.:)
    beijinhos,
    Diana do http://thegirlwhocouldntbeafashionista.blogspot.ie/

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  2. Niki, pede ajuda, não te isoles nem te auto-desculpes porque a realidade é que se tu não puderes fazer uma dessas coisas (ou mesmo) todas, irá sempre alguém fazê-lo, por ti. Por isso mesmo, pede ajuda, diz o que queres e como queres. E não sei se é bem isto, de sentires que carregas o peso do mundo aos teus ombros e niguém te olha de frente, todos fingem ver mas ninguém te auxilia. Mas pede ajuda...porque estás cansada e tens todo o direiro de o estar. E mereces tanta disponibilidade de outros como tu a dás. Eu ajudo-te...se quiseres, sabes que estou à distância de uma mensagem ou telefonema.
    Beijocas nossas (como te compreendo) ;)

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  3. Linda, nem sabes como me identifico ctg.. de tal maneira que parecia eu a falar á uns tempos atrás... mudei (não sei se para melhor e se por muito tempo) mas por isso mesmo agora vivo só para a minha familia a 3 e apenas nós... dentro disto tempo ter tempo para mim mesma (ainda nao conseguio que pretendo, mas lá chegarei um dia) e no trabalho? ohhh sem tirar nem por uma virgula no que escreves-te... pessoas sempre a queixarem-se e eu pk tenho um sorriso sempre nos labios, laraxas para contar... mal sabem cmo me sinto por dentro...Pensa apenas que deus não dorme e o teu tormento vai acabar, o teu dia (o teu mes) chegou e agora vai td mudar, tu tens de mudar!!! Beijo Grande

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  4. Estava a ler-te e a rever-me há 2 anos atrás, quando me fui sentindo assim, e cada vez mais e mais e depois cai num poço tão fundo que cheguei a pensar que nunca de lá sairia, querida anima-te e não te afundes o tempo para ti não é um luxo, ajudarem-te não é um luxo e nós precisamos de tempo para nós, começa a animar-te pois é o teu mês e infelizmente estou muito longe, pois teria todo o prazer em estar cá para ti, para te ajudar.

    Beijinhos grandes

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  5. desafio para ti no meu blog, participa! :)

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  6. Niki, acho que todas nós temos estas alturas, eu estava a ler-te e ver-me nas tuas palavras, o pior de tudo é que mesmo que peça-mos ajuda é dificil tê-la porque sabem que nós somos capazes sem ajuda de fazer tudo! O problema é esse! E a culpa acaba também por ser nossa, que quando gritamos e não nos ouvem, fazemos, arrumamos, limpamos, porque sabemos que ninguém mais o vai fazer! Mas Niki não fiques em silêncio ... pede ajuda nem que para isso tenha que ser aos gritos ;) pode ser que assim te oiçam :)

    Beijo grande

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  7. se um café ajudar, vamos nessa :) alinhas? manda mail ritatvalente@gmail.com (acho q ja tinhas)

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  8. Sabes, talvez o cerne da questão é essa mesma, não passar o que efectivamente se sente, pensa-se. Talvez devas parar um pouco e dizer em alto e boa voz o que queres e de quem queres. Isto porque as pessoas não adivinham e quando se passa a imagem que está tudo bem e se é forte e tudo mais, as pessoas dão logo como dado adquirido que se é máquina, inatingível - um erro - já se sabe, mas o ser humano vai sempre pelo lado mais fácil e cómodo, obviamente. Posto isto, não tenhas vergonha de assumir aos outros como estás e porque estás. O primeiro passo já deste, escrever aqui, como se tivesses a falar com o teu íntimo. Agora, é soltar as palavras para a atmosfera em alto e bom som!

    Força! ;)

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  9. Depois de ter lido os dois posts percebo que dizer não é um problema. É dizer não a quem se gosta, dizer não a quem não se pode.
    Os filhos são os filhos e ai percebo, posso estar a cair para o lado mas se eles chamam estou lá, nem que me arraste.
    No trabalho, dizemos não a quem? Ao chefe? Ao colega e deixamo-lo enrascado?
    Aos familiares? Aos amigos? Não dá, então dizemos espera aí à única pessoa que podemos, a nós. Até lhe dizemos um sonoro e redondo não.
    Só é pena que os outros não o ouçam e percebam que é a nós que deviamos dizer os maiores sim.
    Entendo e revejo-me em algumas coisas.

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  10. É bom ajudar mas também é bom quando alguém pára para se preocupar connosco, nem que seja só para desabafar, ter um ombro amigo.
    Ninguém é de ferro.

    Bjokas.

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  11. Aprender a dizer "Não" é das coisas mais difíceis, quando o sim e a disponibilidade fazem parte da essência da pessoa.
    Atreve-te!
    ;)
    Beijinho

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  12. Tb me sinto assim, assim e como descreve os colegas, acho que é a chamada crise dos 40, o olhar mos e não vermos nada.

    Calma e como alguém diz " a vida resolve se sozinha" vamos relativizar e tudo parece mais fácil. .......acho que é o melhor do que andar cheia de comprimidos ditos milagrosos mas e a realidade como fica?!

    Um beijinho solidário.

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