Quando se é uma pessoa que não fala, imagina-se que no nosso cérebro há uma parede cheia de pequenas gavetas, onde se vão arrumando mal-entendidos, memórias do que foi [e principalmente do que podia ter sido], assuntos mal resolvidos, desejos interrompidos, detalhes inesquecíveis, lembranças de noites mal dormidas, promessas não cumpridas, resignações sem tentativa. Pessoas que estupidamente deixámos escapar da nossa vida.
De quando em vez num sono profundo, lá se abre uma gaveta e durante uma qualquer noite se sonha com o que guardámos e acordamos a sorrir, ainda com a sensação de que finalmente tivemos a certeza de que tudo não passou de um grande mal entendido e com o perfume de um abraço de alguém que nos ficou no coração.
Ao longo do dia os detalhes vão-se desvanecendo e vamos realizando que temos de fechar a gaveta novamente até um dia destes. Somos pessoas que não falam e por isso as ditas só se fecharão de vez em sonhos.
Mas há detalhes que não se esquecem porque alguém nos disse um dia que os detalhes são tudo.
Fiquei emocionada com este texto. Identifico-me bastante :)
ResponderEliminarPor isso sou como os malucos digo tudo, as minha gavetas estão praticamente todas arrumadas, uma ou outra que não tive tempo de arrumar.
ResponderEliminar