Quando o assunto é a vida dos outros, há sempre muita gente
a opinar e a vomitar teorias e frases feitas que um dia ouviram ou leram em
algum lugar e que completaram com aquilo que elas próprias são. Não param
sequer um segundo para pensar como seria se fossem elas a estar realmente no lugar do
outro.
A facilidade com que se julga quem vive o que nos é desconhecido,
é sempre triste e ainda assim prende-se por ter cão e por não ter. “ai se fosse comigo
nunca seria assim”, “ai hoje em dia nem se esforçam, à mínima chatice separam-se logo”.
Não vou falar do meu divórcio, muito menos daquilo que senti
por parte dos que acharam que faziam parte e tomaram partidos
completamente alheios a tudo, e que curiosamente eram os mesmos que sorrateiramente
disparavam “se não estão bem, porque estão juntos?”. Isso na verdade é assunto acabado e só me fez arrumar
juntamente com o divórcio os lugares e pessoas que afinal não pertenciam à
minha vida.
Mas quero, tenho que dizer aos que não estão felizes, mas que
acham que nada podem fazer a não ser conformar-se, que há quem os entenda. Mesmo!
Quer
virem um dia a mesa, ou permaneçam ali porque lhes falta a força.
Os motivos podem ser mil e um, mas há uma coisa que eu sei e
que todos (achava eu) deviam conseguir perceber:
Uma separação vem sempre
acompanhada de muito sofrimento e não é preciso apenas coragem para tomar a
decisão (que não aparece de um dia para o outro, já agora), é preciso muita coragem para
a conseguir manter.
Saberão os que criticam, o que dói arrancar raízes?
Saberão o
esforço que implica o processo de recuperação de individualidade?
Terão noção
da dificuldade que é desistir de planos, de sonhos, deixar tudo para trás?
Passará pelo cabeça dos que julgam e se achando com
capacidade superior para tomar decisões imediatas e cheias de alusão à sua
personalidade forte, o que é RECOMEÇAR UMA VIDA DO ZERO?
Acharão que é de um dia para o outro que por capricho se
passa a fazer pinos e cambalhotas para conseguir pagar sozinho todas contas que
eram divididas?
Conhecerão por acaso a realidade que é viver e gerir sozinha uma vida (com ou sem filhos) neste país?
Imaginarão que eventualmente haverá quem tenha de encarar os seus cuidados de saúde como um bem não essencial, em prol dos filhos?
Se não calçaram os sapatos do outro, agradeçam a vida
perfeita que felizmente têm, as noites de sono tranquilo que isso vos permite e
não julguem, porque cada um sabe a cruz que carrega.
Sou completamente a favor dos recomeços e acredito mesmo que
não devemos conformar-nos com o quase-feliz, mas sei (sinto-o diariamente) o
que custa conseguir virar a mesa e mudar de vida e é por isso que vos peço que
parem para pensar antes de falar da vida de alguém.