Eu não sei escrever. Adjectivo muito, não respeito as regras
gramaticais, exagero na pontuação, chego mesmo a subverter todas as normas que
nos foram ensinadas. Eu sou arquitonta, mais tonta que arquitecta, e com muito
gosto. Eu não sei escrever mas sei falar de amor, do meu amor, do amor dele, do
nosso amor.
Recuemos, então, ao longínquo ano de 2000 e a uma coisa esquisita
denominada por “internet relay chat”. Não sabem o que é? Nem eu sabia! Tinha
terminado uma relação muito longa quando um amigo achou que eu precisava de me
distrair e rir, rir muito. Ele instalou-me a tal coisa esquisita no computador
a que vulgarmente chamávamos de mIRC. E assim foi. O mIRC estranhou-se e depois
entranhou-se. Ele trouxe-me risos, irritações, frustrações, conquistas e o
João. Um João, apenas mais um João e que se transformaria no João até chegar ao
meu João. Foram horas intermináveis de conversas sobre tudo e sobre nada, de
músicas, de sítios, de cheiros, de locais, uma foto minha de perfil trocada,
uma foto dele de goggles, o meu número de telefone, o número de telefone dele,
encontros que nunca marcámos (não sabemos explicar porquê) e um dia o fim. O
afastamento de ambos. O João foi-se embora. Eu fui-me embora. Ambos
pertencíamos ao mundo real, aquilo não era para nós. Estava na altura de
regressamos aos amigos de carne e osso. E o tempo passou: um dia, uma semana, 1
mês, 1 ano… 3 anos sem existir “nós”. Sem João. Sem Sara.
No dia 29 de Maio de
2003 vou com uma amiga ao último concerto no velhinho estádio de alvalade –
15.000 pessoas (segundo a organização) e o meu telefone vibra. Um SMS a dizer:
“acabaste de passar por mim”. Como?!? João?!? Tu, 3 anos depois?!? Nem consigo
imaginar a minha cara (ele não só conseguia como a viu, pois estava mesmo atras
de mim, e segundo o mesmo disse que o empurrei, eu nego até que me mostrem
filmagens do momento). Respondi logo “desculpa mas deves estar a fazer
confusão”, e a resposta veio no segundo imediato “camisola preta, calças curtas
pretas, sabrinas pretas (duvido que ele tenha escrito sabrinas mas era o que eu
calçava no momento) e um blusão de ganga à cintura”. Toda eu tremia, estava
histérica e curiosa, debitei 3 anos de conversas à minha amiga e ela (mais
histérica do que eu) disse para eu lhe ligar (sim pessoas demorei 3 anos a
ligar ao homem da minha vida e???). Desligado. Escusado será dizer que eu já
não queria saber de Festival algum. Estava ali, isolada, no meio da multidão,
perdida nos meus pensamentos.
Marcámos encontro naquele bar, junto à praia, bem
perto do local onde viríamos a morar mais tarde (mas isso nós ainda não
sabíamos). Encontrámo-nos e tivemos a confirmação de que já estivéramos
apaixonados, mesmo sem nos vermos. Tudo regressou, os anos foram apagados e nós
ainda estávamos apaixonados. Namorámos. Terminámos. Voltámos a namorar.
Voltámos a terminar. Tentámos mais uma vez. Terminámos mais uma vez… de vez.
Não valia a pena insistir. Eu não suportava ser amada assim. Eu não sabia dar
valor àquele amor simples e despretensioso. Eu era complicada (ainda sou,
menos, mas sou). Não entendia o porquê de me tratares tão bem, o que teria eu
feito para merecer tamanha dádiva. Não podia ser tão simples ser feliz e
assustei-me. Fugi… e tu já não vieste atrás. Seguiste a tua vida… eu segui a
minha vida. Voltaste a amar. Eu (achei que) voltei a amar. Tu desiludiste-te.
Eu quase me destruí. Quase me destruíram. Quis desistir de mim…
quase morri.
Um
dia (não interessa qual) interroguei-me: o que estava eu a fazer? Eu já vivera
o melhor amor de todos. O amor sem filtros, com gargalhadas fáceis, com
sorrisos tontos como só conseguem ser os sorrisos dos apaixonados. Estava na
hora de lutar, de te trazer de novo para a minha vida, de te provar que estava
finalmente preparada para o nosso amor. Mas tu… estavas com medo (que corajoso
foste em voltar a arriscar). Deste luta. Muita luta. Achei que te tinha perdido
para sempre. E sempre era tanto tempo que não conseguia nem imaginar o que
seria viver sem ti. A vida foi generosa comigo, tu foste generoso comigo e
voltaste a entregar-te a mim, a nós. Hoje, casados, felizes, percebemos que
apesar de doloroso este foi o caminho que traçamos para nós. Eu tinha de me
perder para te voltar a encontrar. E tu tinhas de me deixar partir para me
voltares a ter. Eu não sei escrever mas sei falar de amor, do meu amor, do amor
dele, do nosso amor.
***
Toda a gente conhece a Fio a Pavio, mas se por acaso andar por aí alguém mais distraído, o caminho é por AQUI ou por AQUI!