Na Páscoa como na vida!

Quebrei há um ano a tradição que era a minha Páscoa quando fiz a minha mudança de casa [e de vida], mas decidi naquela altura que as minhas filhas não tinham de o fazer, prometendo a mim mesma que enquanto quisessem, continuariam a ir passear para o Alentejo onde são tão felizes e onde nesta época deliram à procura de coelhos e ovos escondidos.  

Não tive uma Páscoa tradicional, e tendo em conta esta minha decisão, acho que não voltarei a ter, mas isto só reforça aquilo em que sempre acreditei e que tenho aprendido a seguir como base da minha vida.

Na Páscoa como na vida, há um renovar de esperanças e recomeços. Há o amor que trazemos no coração e que às vezes tem que transbordar para os que não o conseguem alcançar. Há a introspecção. Tem que haver certeza de que fizemos o bem. A convicção de que à noite conseguiremos deitar a cabeça no travesseiro e dormir profundamente com a nossa consciência. 

Há o perdoar, mesmos os que não se perdoam. Mesmo os que magoam e se esquecem que ser uma boa pessoa também conta quando não nos estão a observar.

Há o assumir as responsabilidades e consequências das nossas decisões.

Há o parar e agradecer por tudo o que conseguimos, por tudo o que alcançaremos e especialmente por todos os que nunca nos abandonam e que fazem valer cada dificuldade.

Na Páscoa, não comer carne à sexta feira não chega para nos tornar santos. Na vida, sermos bonzinhos apenas quando nos estão a olhar, não faz de nós boas pessoas.

Há na minha vida uma nova tradição.  

Dar valor a quem fica quando mais ninguém está a ver. A quem não me perde nos momentos difíceis, porque quando se trata de provar ao mundo que somos muito boas pessoas, qualquer um consegue cuspir da boca para fora grandes teorias sobre os valores de amizade. Ser amigo apenas, confiar, falar o que houver para falar, é para muito poucos.

Mas como sou uma pessoa muito bem resolvida com os meus pecados, na Páscoa também comi muito bem!