domingo, dezembro 17, 2017

Memórias de um Parto ❤


Há 14 anos por esta hora a minha primeira filha já tinha nascido mas eu ainda não sabia se ela estava bem.

Entre as 14h40 do dia 16 quando dei entrada na maternidade e as 5h40 do dia 17, o tempo parecia não passar. Entre corredores feios e quartos vazios, nenhuma cara me era conhecida e o medo e a ansiedade iam aumentando. Fui esperando até que o momento chegasse (que remédio!) sem entender porque não tinha ali nenhuma pessoa minha comigo.
Soube mais tarde que lá fora perguntavam por mim e as respostas alternavam entre o "ainda está muito atrasado...", "Quando for para entrar, avisamos.." e até "ela agora levou epidural e está a dormir..." (como se fosse possível dormir num momento destes). 
[Quando tudo passou ralhei com toda a gente por por me sentir abandonada e não terem insistido ou feito um barraco para que deixassem alguém entrar!]

É difícil para mim precisar exactamente as horas em que tudo ia acontecendo porque não me lembro de ver nenhum relógio na parede e os enfermeiros, médicos, auxiliares e estagiários que iam entrando, não falavam muito comigo, apenas faziam o "toque" trezentas e cinquenta vezes. O que sei é que depois de muitas horas de se iniciar a indução do parto as dores começavam finalmente a aumentar. Sentia-me estranhamente feliz por estar finalmente a sentir alguma coisa e hoje sei que era o alívio por saber que estava finalmente na hora de conhecer a minha bebé.

A primeira dose de epidural atenuou as dores mas por muito pouco tempo e naquele dia o médico novinho com quem eu embirrava nas consultas foi quem entrou na sala de parto, tal anjo caído do céu, e dou ordem imediata para me darem a segunda dose o que acelerou todo o processo.

Depois disto, em poucos minutos a minha filha nasceu em silêncio o que me deixou logo assustada. Começo a ver toda a gente a correr e aos gritos com a Camila nos braços e fico sozinha novamente. Uma vez mais não sei quanto tempo passou, mas foi o suficiente para eu chorar muito a imaginar todo um filme de terror enquanto ia chamando alguém e parecia que não havia viva alma naquela maternidade.

Muito tempo depois (se calhar foram minutos, mas para mim foram os minutos mais terríveis da minha vida) apareceu finalmente uma enfermeira que estranhou eu estar ali (ainda no estado em que me deixaram depois do parto) num choro incontrolável, e ao perceber o que se tinha passado me trouxe finalmente a Camila, enquanto uma estagiária amorosa me dava a anestesia local para me conseguir suturar.

E este foi aquele momento em que entendi o que tantas vezes tinha ouvido a minha mãe e outras mães dizerem. 

"As dores esquecem-se logo!"

E é verdade. Passou-me tudo! 

Esqueci completamente as dores e tudo o que correu menos bem porque afinal ela estava ali a olhar para mim com aqueles olhos grandes e cheia de saúde.

Parabéns meu primeiro amor pequenino! 



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