Esperar um bebé tão desejado é a melhor coisa do mundo, mas isso não quer dizer que estar grávida seja um mar de rosas. Eu gostava de ser uma daqueles 5 ou 6 mulheres que dizem que tiveram uma gravidez santa, mas não sou.
Preparamo-nos para mil e um desconfortos, vamos aceitando mais um dia de enjoos, aquela ciática que nos faz pensar que um dia destes talvez seja necessário usar uma muleta, a insónia que faz dar mil voltas na cama durante a noite e o sono que se torna incontrolável durante o dia sempre com um brilho nos olhos, porque afinal é pela melhor causa do mundo. Depois chegamos ao parto e encaramos as dores terríveis como a luz ao fundo do túnel, a recompensa mais que merecida, acompanhada da certeza de que tudo valeu a pena.
O que não faltam por aí são artigos que nos preparam para 9 meses de instabilidade emocional e dificuldades várias, mas onde está a informação que poderia ajudar a preparar todos os que fazem parte da vida da grávida e consequentemente estão envolvidos na gravidez?
Onde andam os "livros" que ajudam a perceber que numa altura em que tanto está a acontecer, as nossas emoções estão à flor da pele? Que a qualquer momento passamos do riso à tristeza e até à aparente raiva sem sentido e que tudo o que não precisamos é que nos façam sentir invisíveis e bipolares?
É exagero uma grávida achar que deixou de existir ou na verdade só está a sentir na pele que de repente se acabaram os jantares com amigos, as compras com amigas ou até as conversas banais, já que para muitas pessoas agora ela é só uma grávida e portanto está na hora de a excluir de tudo que não envolva barrigas, contracções, fraldas e bebés.
Exagero? Sabem o que é exagero? É ter de lidar com o tsunami de alterações a acontecer num tão curto espaço de tempo e isso é algo que só quem esteve/está grávida consegue entender, mas um bocadinho de informação e alguma compreensão podia ajudar muito.
Eu vi o programa no domingo. Eu até estava curiosa, não conhecia o formato e ainda pensei que pudesse trazer alguma ajuda com "dicas" e conselhos de uma profissional, porque eu não sou uma super Mãe e há momentos em que também desespero por não saber bem o que fazer mais para dar a volta àquela birra.
No final do programa, também eu (à semelhança de tanta gente que viu a super nanny) percebi que afinal não há ali grande coisa a aproveitar-se. Há em horário nobre a exposição exagerada e humilhante de uma criança e da sua família cansada e a precisar realmente de ajuda e era aqui que queria chegar.
Será que a Mãe da Margarida tinha noção daquilo a que estava a sujeitar a filha ou será que era apenas uma Mãe esgotada e a precisar desesperadamente de ajuda, tendo sido esta a forma que na altura lhe pareceu a certa? Eu não sei e por isso não me vou pôr a criticar só porque não gostei do que vi!
A estratégia usada pela psicóloga também está a chocar toda a gente. Não me digam que eu sou a única mãe do mundo que muitas vezes tem de negociar com as filhas para que alterem o comportamento?
"Marta o comportamento na escola não tem sido bom, por isso não vais à visita de estudo à Kidzania. Para ires à próxima, tens de melhorar na escola."
E o banquinho? Também nunca disseram aos vossos filhos:
"Agora vais um bocadinho para o quarto pensar no que acabou de acontecer e quando estiveres mais calma, vens conversar comigo!""
Sério? Sou só eu? Sou uma péssima mãe, de certeza!
E agora pergunto, e as super-mães dos baby blogs encenados que nos vendem vidas perfeitas? Essas mesmo que sem ver sequer o programa, não deixaram de opinar e mostrar-se indignadas? Aquelas que sabem sempre tudo sobre educação e mostram que o único caminho é ter toda a paciência do mundo para os filhos (a parte da empregada que têm a tempo inteiro para estar com os filhos, é pormenor) mas que em eventos não deixam a criancinha ir fazer xixi porque ainda tem que tirar 25 fotos (true story)? Isto não é uma forma exagerada de exploração/ exposição?
Olhando para as redes sociais, blogues e afins, chego à conclusão que com os filhos dos outros somos todos muito bons pais!